Ele sabia que o fim se aproximava, não era um espécie de pensamento, era um sentimento, aquele que começa a brotar dentro da pessoa de um local desconhecido, muitos dizem que é do coração, mas esse é apenas um músculo de movimentos involuntários criados pelo cérebro. Esse sim é o grande Senhor, o Todo Poderoso capaz de criar qualquer situação. Todos pensam que têm controle pleno sobre o que pensa e o que faz, contudo essa é a verdade criada por si mesmo para não acreditar que a sua própria vida não depende de sua vontade.
Agora ele podia sentir mais forte, tinha a impressão que a sala ficava cada vez mais escura, não consegue enxergar mais aquele seu livro favorito, "Os contos anônimos".
"Ah". Ele sentia um prazer imenso de apenas lembrar de onde veio aquele livro. Este não veio de uma livraria qualquer, comprado com o dinheiro suado de trabalhar como carregador de mercadorias, e nem poderia ser misturado com todos os outros da sua estante, era especial. Este foi dado por Ela, sim, Ela. Aquela mulher que um dia encontrou na estação primeira da cidade de Brookdale.
Ele tentou se levantar e procurar o livro, mas suas pernas fraquejaram, colocou no chão de cimento batido uma perna e tentava jogar a outra para frente na vontade de se manter sobre as próprias pernas, porém era quase impossível. A este ponto já não sabia mais quem era nem o que queria, caiu de joelhos no chão, mãos no rosto. Desejava esconder alguma coisa em seu rosto, contudo não havia nada físico a esconder. Talvez sentisse vergonha, sim, sentisse vergonha de estar morrendo no seu quarto sem nunca ter tocado Nela.
Agora já não mais enxergava, estava em total estado vegetativo, jogado ao chão. A única coisa que lhe pertencia era seus pensamentos. Teve exatos cinco minutos e dez segundos para pensar em tudo que quisesse. Depois que passou esse tempo a hemorragia em seu cérebro não pode ser mais contida e fora ali, deitado no chão de seu quarto que deu seu último suspiro.