Quem jamais sentiu os múltiplos sentimentos produzidos por um toque de mão? Muitas pessoas parecem ter em si uma temperatura própria. São quentes e febris em pleno inverno, enquanto outras são frias como gelo em dias de canícula. Algumas mãos são secas e áridas, outras continuamente úmidas, viscosas e pegajosas. Há mãos carnudas, polpudas, musculosas, ou finas, esqueléticas e ossudas. O aperto de algumas é como o de um torno de ferro, outras parecem frouxas como um pedaço de trapo. Há um produto artificial de nossa civilização moderna, uma deformidade semelhante a das mãos de uma dama chinesa sempre encerrada numa luva durante o dia, frequentemente envolta por um cataplasma durante a noite, cuidada por uma manicure; elas são brancas como neve, se não castas como gelo. Como aquela inútil mãozinha se retrairia ao toque da mão descarnada, áspera, argilosa, encardida de um trabalhador, cujo trabalho duro e irremitente transformou-a numa espécie de casco. Algumas mãos são recatadas, outras acariciam-no de maneira indecente; o aperto de algumas é hipócrita, e não o que finge ser; há a mão aveludada, a untuosa, a sacerdotal, a mão do trapaceiro, a palma aberta do perdulário, a garra fortemente fechada do sovina. Há, acima de tudo, a mão magnética, que parece ter uma secreta afinidade com a sua; o simples toque dela excita todo o seu sistema nervoso e o enche de deleite.