domingo, 8 de abril de 2012

Camille sobre apertos de mão.

Quem jamais sentiu os múltiplos sentimentos produzidos por um toque de mão? Muitas pessoas parecem ter em si uma temperatura própria. São quentes e febris em pleno inverno, enquanto outras são frias como gelo em dias de canícula. Algumas mãos são secas e áridas, outras continuamente úmidas, viscosas e pegajosas. Há mãos carnudas, polpudas, musculosas, ou finas, esqueléticas e ossudas. O aperto de algumas é como o de um torno de ferro, outras parecem frouxas como um pedaço de trapo. Há um produto artificial de nossa civilização moderna, uma deformidade semelhante a das mãos de uma dama chinesa sempre encerrada numa luva durante o dia, frequentemente envolta por um cataplasma durante a noite, cuidada por uma manicure; elas são brancas como neve, se não castas como gelo. Como aquela inútil mãozinha se retrairia ao toque da mão descarnada, áspera, argilosa, encardida de um trabalhador, cujo trabalho duro e irremitente transformou-a numa espécie de casco. Algumas mãos são recatadas, outras acariciam-no de maneira indecente; o aperto de algumas é hipócrita, e não o que finge ser; há a mão aveludada, a untuosa, a sacerdotal, a mão do trapaceiro, a palma aberta do perdulário, a garra fortemente fechada do sovina. Há, acima de tudo, a mão magnética, que parece ter uma secreta afinidade com a sua; o simples toque dela excita todo o seu sistema nervoso e o enche de deleite.