sábado, 20 de novembro de 2010

O questionário.

E se eu nunca for feliz, nem der mais nenhum sorriso daqui para frente?
E se o que eu vivi até agora não for minha vida, mas a que eu viverei a partir de agora também não for?
E se eu estendi a mão a quem eu não deveria, contudo quem eu maltratei, na verdade, meu bem queria?
E se quando eu olhar para o céu de manhã eu não vir mais o sol, porém aglomerados de nuvens com as quais não seja possível brincar de adivinhar seus formatos?
E se o abraço de minha mãe em meu aniversário não me fizer mais chorar?
E se quando eu chegar em casa meu cachorro não vier mais me acolher emocionado?
E se eu não tiver para quem ligar quando souber da mais nova fofoca?
E se eu nunca souber o que é um abraço de acolhida, porém sempre o de despedida?
E se eu não souber o que é um beijo com amor, ao invés de um beijo com tesão?
E se eu nunca amar, ou melhor...
E se eu nunca for amado?

domingo, 27 de junho de 2010

A minha dor.

Eu tenho a minha dor, ela me pertence, ela me domina e me entorpece, ela não é tua, ela não é dele, sou eu quem fica no apartamento na companhia apenas da solidão e que por ela sou seduzido. Tua dor é capricho, não é nem sequer a razão da consciência que resolveu te retornar, tu agora tens ele em tua cama, sua toalha em teu banheiro. E eu? Eu tenho a minha dor, tenho o apartamento vazio, o corredor silencioso, o chuveiro não mais a chorar. Tu tens tuas saudades, talvez nem saudades, apenas nostalgia, tens uma mão para te acalentar, uma vida para seguires em frente. Eu tenho ainda teu gosto em minha boca e tua respiração ao pé do ouvido, tenho calafrios das lembranças ao tomarmos banho e tenho a minha dor. Tu tens amor, tens uma vida, tens de volta o brilho dos teus olhos e teu fogoso sorriso amarelado, que em outros tempos era suficiente para despertar o meu sorriso amarelado. E eu? Agora eu tenho a minha dor, tenho as lágrimas sofridas nos olhos quando te vejo sorrir e tenho a tristeza iminente de uma tragédia.

sábado, 13 de março de 2010

A partida.

Não quero mais escrever de desamores que não vivi, minha vontade é de constantemente ser enganado por amores que me traem, batem-me e depois fogem. Olhar em faces daqueles que tem coragem de continuar a te encarar mesmo depois de ter te feito de escárnio causa-me repudia. Bater-vos-ia se força ainda me restasse, contudo o mal que me consome não me deixa nem forças para desta cama levantar, parece-me que apodrecerei aqui deitado, desejo aqui perecer até o dia em que a luz do sol não mais venha banhar minhas manhãs. E dessa forma entrego-me a vós, desamores que comigo brincaram, de mim se fortaleceram e depois de mim fizeram a cruz sobre a qual agora vou embora desta vida cruel que já atormentou demais o meu ser.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pensamento de Werther.

Com certeza - visto que somos feitos de tal maneira que comparamos tudo conosco, e daí segue-se que a felicidade ou a desgraça jazem nos objetos com os quais nos relacionamos -, não há nada mais perigoso do que a solidão. A nossa imaginação, levada por natureza a sublevar-se e nutrida pelos fantásticos quadros das poesias, cria uma série de seres cuja superioridade nos esmaga, e quando lançamos o olhar para o mundo real qualquer outro nos parece mais perfeito que nós mesmos. E isso é até bem natural. Sentimos tantas vezes que nos falta alguma coisa, e por vezes parece que o que nos falta um outro possui. Quando isso acontece, a ele concedemos de bom grado tudo aquilo que temos, e ainda por cima um certo bem-estar ideal. E assim imaginamos nós mesmos as perfeições que criam o nosso suplício.
Pelo contrário, quando com toda a nossa fraqueza, com toda a nossa lástima caminhamos decididos e direitos a um fim, sentimos muitas vezes que, mesmo com nossos tombos e deslizes, vamos bem além do que os outros vão à força de suas velas e seus remos... E, ah, disso tenho certeza... O fato de caminhar tão ligeiro, ou até de ultrapassar os que andam conosco, proporciona tanta autoconfiaça!

Goethe.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Trazes flores?

Bates à porta de minha casa a esta hora da noite apenas para dizer: "Eu te amo". Justo agora que a vida se toca, que o passado não se faz mais presente, vens dizer o que em águas passadas era tão valioso para mim. Seria de você um ato de piedade? Creio na beleza das tuas palavras e na sinceridade de teu gesto, mas conheço a intenção no plano de fundo de tuas presentes atitudes, mas para mim tudo soa deveras anacrônico. Agora sentes a melancolia da solidão, sentes o que senti na carne quando a ti meu amor era dedicado, contudo nunca retribuído, o medo da perda te levou a este estado de comiseração. Mas enfim o que é o amor para ti? A convinvência tornou-nos pessoas desconhecidas, esta é uma bela ironia do amor, porém a lascívia de meus sentimentos é recorrente. Tiveste teu tempo de falar, de me tocar, de ser quem eu precisava que foste mesmo contra tua vontade, agora não há mais tempo. Teus atos agora padecem de exímia crueldade, afinal, como chegas na casa de alguém tão tarde sem ao menos ter a educação de trazer flores?