quinta-feira, 24 de abril de 2014

Primeiro dia

Da história já se conhecia o fim, seja feliz ou triste ainda surpresa não era. No primeiro dia havia visto um menino, ainda menino, de cabelos loiros que cobriam seus olhos. Ficou lá sentado e o viu dar voltas a correr pelo pátio.
"Mas que vivacidade" pensou "enquanto cá estou sentado e mesmo pensamentos lutam para não se esvair de mim". Para apenas um garoto, um pensamento assaz complexo, gramaticalmente e tudo o mais.
Ainda corria e enquanto o fazia, seus cabelos, que saltavam diante de si, abriam as portas para a visão mais bela que já tinha até então visto, ao menos pensou o menino que aos 11 anos acreditava já ter visto tudo. Quão inocente pode ser uma mente jovial, eu me pergunto. Num instante de um segundo, ao menos fora o sentimento de nosso pequeno herói, o loiro menino fixou os olhos em si e apesar de tudo já ter visto, nem tudo havia vivido. Naquele momento suas mãos ficaram geladas, pensara que seu coração havia parado de bater. Teria dito que sofria um ataque cardíaco, porém isso também já vira. Logo perguntou-se o que poderia ser. Do olhar foi se construindo um sorriso, não em si, pois não sabia o que fazer, nunca havia vivido algo do tipo, mas no loiro menino. Enquanto vagarosamente seus olhos esperavam o ápice de tal obra, seus pensamentos disparavam com pressa, uma urgência incontrolável. Era um tal de devo sorrir, devo olhar, devo falar, meu braço está dormente, devo me levantar. Como tantas perguntas iam e viam em espaço tão curto de um segundo nunca soube dizer.
E lá estava, finalmente após um milhão de segundos, assim pensava Malo, o tão esperado sorriso. Virou-se para ter certeza se era consigo, ou alguém sentado logo atrás dele, pois bem já tinha visto tudo, e em tudo se incluía filmes. Não queria parecer patético logo no primeiro dia de escola. Virou-se uma vez, virou-se duas vezes e na terceira deu-se por convencido. Decidiu, então, que iria sorrir de volta. Mas não foi para sua surpresa que quando voltou seus olhos em direção ao loiro menino, cá não estava mais.

"Típico", pensou.
Mais uma vez ela estava nua na cama de um estranho, porém dessa vez ela parecia o reconhecer. Já vira aquela mão, sabia exatamente o percurso que ela faria pelo seu corpo. O beijo começava familiar e era conduzido até um pequeno prazer local, em sintonia com as brincadeiras de suas mãos. Contudo havia ali algo que não era familiar. Não conseguia distinguir se era o rosto devido à ausência de luz naquele quarto cujo a Deus pertence, mas havia ali uma agressividade e uma inquietação que não rimavam com os beijos e carícias tênues.
Não sabia se era o efeito do porre que estava passando ou se de repente suas memórias resolveram parar a brincadeira e substituir o vazio de dias seguidos que se instalara em seu lugar. Mas ia se tornando claro pra ela que ali não era mais um estranho, nem que aquele quarto a Deus pertencia.