Com certeza - visto que somos feitos de tal maneira que comparamos tudo conosco, e daí segue-se que a felicidade ou a desgraça jazem nos objetos com os quais nos relacionamos -, não há nada mais perigoso do que a solidão. A nossa imaginação, levada por natureza a sublevar-se e nutrida pelos fantásticos quadros das poesias, cria uma série de seres cuja superioridade nos esmaga, e quando lançamos o olhar para o mundo real qualquer outro nos parece mais perfeito que nós mesmos. E isso é até bem natural. Sentimos tantas vezes que nos falta alguma coisa, e por vezes parece que o que nos falta um outro possui. Quando isso acontece, a ele concedemos de bom grado tudo aquilo que temos, e ainda por cima um certo bem-estar ideal. E assim imaginamos nós mesmos as perfeições que criam o nosso suplício.
Pelo contrário, quando com toda a nossa fraqueza, com toda a nossa lástima caminhamos decididos e direitos a um fim, sentimos muitas vezes que, mesmo com nossos tombos e deslizes, vamos bem além do que os outros vão à força de suas velas e seus remos... E, ah, disso tenho certeza... O fato de caminhar tão ligeiro, ou até de ultrapassar os que andam conosco, proporciona tanta autoconfiaça!
Goethe.