Não tinha coragem, ou seria determinação? Talvez fosse pura vergonha, porém não sabia explicar.
Ele nunca olhara em espelhos, não queria confrotar o que tinha em seu próprio rosto, achava que a arte de se expressar através de movimentos facias fosse tão mágica que não queria estragá-la por uma súbita vontade de prestigiar sua imagem.
Entrava em seu quarto e fechava todas as cortinas antes que as janelas fossem capazes de refletir sua imagem, por causa da escuridão que tomava conta das ruas. Nada de espelhos no banheiro ou em qualquer outra parte de seu quarto. Não tinha idade ainda para se barbear e cortava seus cabelos sempre com sua mãe.
Gostava de sua vida, admirava a arte em geral, tinha uma lousa em seu quarto que utilizava para pintar as belezas do mundo e da vida. Sempre pintara o alvorecer, florestas, cachoeiras e diversos tipos de paisagens naturais. Aquilo o fascinava, a natureza o fascinava, era capaz de sentar à beira de sua janela e passar horas contemplando o parque da cidade logo depois da avenida Conde Stuart.
Ele achava que o mundo estava em suas mãos que poderia desenhar o que desejasse em sua lousa. Até que deu conta dos sentimentos, das emoções e do amor. Não sabia controlar. Certo dia fora passear no parque e notou uma garota em total sintonia com a natureza e percebia pelo seu rosto, apesar de não muito expressivo, que ela amava o que fazia. Sentiu um imensa curiosidade acerca daquela garota. Seria mesmo curiosidade? Não soube dizer o que sentira. Não, não era inveja, já conhecera isso antes. Sentira um desejo ardente de conhecer aquela pessoa, mas sabia que nunca conseguiria sem antes conhecer a si mesmo.
Pensou que talvez o espelho fosse a chave para a resposta. Deveria olhar no espelho?