quarta-feira, 25 de março de 2015

O paradoxo da parede.

Ali parei e fixei meus olhos na parede, tentei penetrar-me profundamente através de tinta, concreto e tijolos. Num instante eu parecia tão forte, logo mais fraco estava e não sabia mais o que fazia. Não obstante, com determinação continuei a olhar. De paredes nada entendo e daqui de onde me sento, eu me sinto tão inútil quanto descartável. A parede é branca pois nunca fiz questão de pintá-la. No fundo deve ser o reflexo de quem sou. Não há cores, alguns dizem. Há todas as cores de uma só vez, dizem outros. É o paradoxo do otimista e pessimista com roupagem carnavalesca. No fundo, creio que essa parede precisa de um retoque vermelho, mas coragem me falta. Continuo sentado, então, e olho a parede. Não é mais a mesma, pois quando cheguei era tão uniforme quanto poderia ser. Hoje por aqui e por ali vejo traços, riscos, manchas, mãos e pés. Cada um conta uma pequena história do que aqui já se passou. Todos, entretanto, em diferentes tons de branco. Essa parede marca a monotonia dos últimos anos e consigo traz a nostalgia. Marca também as barreiras que me separam do meu destino que tanto receio traçar. É, parece que essa parede merece retoques de outras cores, contudo deixarei o vermelho pra mais tarde.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Primeiro dia

Da história já se conhecia o fim, seja feliz ou triste ainda surpresa não era. No primeiro dia havia visto um menino, ainda menino, de cabelos loiros que cobriam seus olhos. Ficou lá sentado e o viu dar voltas a correr pelo pátio.
"Mas que vivacidade" pensou "enquanto cá estou sentado e mesmo pensamentos lutam para não se esvair de mim". Para apenas um garoto, um pensamento assaz complexo, gramaticalmente e tudo o mais.
Ainda corria e enquanto o fazia, seus cabelos, que saltavam diante de si, abriam as portas para a visão mais bela que já tinha até então visto, ao menos pensou o menino que aos 11 anos acreditava já ter visto tudo. Quão inocente pode ser uma mente jovial, eu me pergunto. Num instante de um segundo, ao menos fora o sentimento de nosso pequeno herói, o loiro menino fixou os olhos em si e apesar de tudo já ter visto, nem tudo havia vivido. Naquele momento suas mãos ficaram geladas, pensara que seu coração havia parado de bater. Teria dito que sofria um ataque cardíaco, porém isso também já vira. Logo perguntou-se o que poderia ser. Do olhar foi se construindo um sorriso, não em si, pois não sabia o que fazer, nunca havia vivido algo do tipo, mas no loiro menino. Enquanto vagarosamente seus olhos esperavam o ápice de tal obra, seus pensamentos disparavam com pressa, uma urgência incontrolável. Era um tal de devo sorrir, devo olhar, devo falar, meu braço está dormente, devo me levantar. Como tantas perguntas iam e viam em espaço tão curto de um segundo nunca soube dizer.
E lá estava, finalmente após um milhão de segundos, assim pensava Malo, o tão esperado sorriso. Virou-se para ter certeza se era consigo, ou alguém sentado logo atrás dele, pois bem já tinha visto tudo, e em tudo se incluía filmes. Não queria parecer patético logo no primeiro dia de escola. Virou-se uma vez, virou-se duas vezes e na terceira deu-se por convencido. Decidiu, então, que iria sorrir de volta. Mas não foi para sua surpresa que quando voltou seus olhos em direção ao loiro menino, cá não estava mais.

"Típico", pensou.
Mais uma vez ela estava nua na cama de um estranho, porém dessa vez ela parecia o reconhecer. Já vira aquela mão, sabia exatamente o percurso que ela faria pelo seu corpo. O beijo começava familiar e era conduzido até um pequeno prazer local, em sintonia com as brincadeiras de suas mãos. Contudo havia ali algo que não era familiar. Não conseguia distinguir se era o rosto devido à ausência de luz naquele quarto cujo a Deus pertence, mas havia ali uma agressividade e uma inquietação que não rimavam com os beijos e carícias tênues.
Não sabia se era o efeito do porre que estava passando ou se de repente suas memórias resolveram parar a brincadeira e substituir o vazio de dias seguidos que se instalara em seu lugar. Mas ia se tornando claro pra ela que ali não era mais um estranho, nem que aquele quarto a Deus pertencia.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

De tu para ti.

A vida se repete e tudo se imita. Vira e mexe tu te pegas à beira de um furacão e tu sabes que dele não podes escapar, tu te escondes, vais atrás das árvores e olhas profundamente bem fundo no horizonte e nada mais vês. O furacão parecia externo um minuto atrás, eram os ventos convergindo, eram os barulhos nos ouvidos, era a vida mudando, e rápido, mas de repente olhando para o horizonte, nada mais vês, nada mais escutas, nada mais sentes. E nesse momento tu te questionas sobre tua paz interior. O que foi um ano te pareceu um dia e agora o que é um mês parecerá um ano e depois, novamente, esperarás que o fato se repita e um ano pareça novamente um dia. Espera-se que na solidão uma pessoa se encontre, desvende o mistério do seu próprio vazio. Contudo se a solidão já é diária, mesmo cercada socialmente, questiona-se quanto a diferença entre a mesma e a solidão física, real. Digo-te, amigo, e te digo com verdade nos olhos, diante de ti mesmo nunca estarás sozinho, solidão para ti será relativa uma vez que tens a ti mesmo para fazer companhia, a ti e ao mundo.
Que os desejos alheios possam ser absorvidos, que o amor a ti enviado possa enfim ser sentido, que te libertes da prisão e possas enfim ser feliz. Que te encontres em outros braços, ou em teus próprios braços. Que acordes todo dia no esquecimento do dia anterior e que o sorriso do teu vizinho seja também o teu, mas que a indiferença de teu vizinho não seja tua indiferença. Todos os desejos são sinceros de ti para ti mesmo. A vida se repete e que teu passado não se repita, olha dentro de ti e encontra um furacão de vontade de ser feliz e de amar, porque bem sabes o que é ser amado, agora falta para ti o sentir. Daqui para frente quando olhares o horizonte verás a ti, verás a ti no passado, no presente e no futuro e independente da linearidade verás a ti, a tua vida e teu sorriso. Sim, o teu belo sorriso.

domingo, 8 de abril de 2012

Camille sobre apertos de mão.

Quem jamais sentiu os múltiplos sentimentos produzidos por um toque de mão? Muitas pessoas parecem ter em si uma temperatura própria. São quentes e febris em pleno inverno, enquanto outras são frias como gelo em dias de canícula. Algumas mãos são secas e áridas, outras continuamente úmidas, viscosas e pegajosas. Há mãos carnudas, polpudas, musculosas, ou finas, esqueléticas e ossudas. O aperto de algumas é como o de um torno de ferro, outras parecem frouxas como um pedaço de trapo. Há um produto artificial de nossa civilização moderna, uma deformidade semelhante a das mãos de uma dama chinesa sempre encerrada numa luva durante o dia, frequentemente envolta por um cataplasma durante a noite, cuidada por uma manicure; elas são brancas como neve, se não castas como gelo. Como aquela inútil mãozinha se retrairia ao toque da mão descarnada, áspera, argilosa, encardida de um trabalhador, cujo trabalho duro e irremitente transformou-a numa espécie de casco. Algumas mãos são recatadas, outras acariciam-no de maneira indecente; o aperto de algumas é hipócrita, e não o que finge ser; há a mão aveludada, a untuosa, a sacerdotal, a mão do trapaceiro, a palma aberta do perdulário, a garra fortemente fechada do sovina. Há, acima de tudo, a mão magnética, que parece ter uma secreta afinidade com a sua; o simples toque dela excita todo o seu sistema nervoso e o enche de deleite.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Reflexão sobre construção de felicidade.

Fiz uma pequena retrospectiva e percebi que o auge da criatividade e liberdade de expressão surgiam à noite, comecinho de madrugada, portanto resolvi investir nesse tempo para fazer umas reflexões.

Eu me pergunto como as pessoas enxergam seu futuro a curto prazo. É fácil de pensar em filhos daqui a 10 anos ou pensar no casamento, na viagem dos sonhos, mas e o amanhã? Qual a meta para se cumprir até o final da semana?

Acredito que falte perspectivas a curto prazo nas pessoas, vejo que cada um baseia a descoberta do momento supremo de felicidade atrelado a um marco histórico em sua vida. Eu por outro lado vejo minha felicidade de forma mais simples e seguindo minha teoria logo me sinto um pedreiro.

Veja só o absurdo: acredito na construção de minha felicidade a pequenos prazos, de preferência do tamanho de uma semana, se alcancei o objetivo tenho meu grau de satisfação e felicidade que podem se acumular para a semana seguinte, mas mesmo que não se acumule, naquela semana estive pleno.

É quase uma metodologia ágil de construção de felicidade análoga a uma construção de software. Simples e escalável, permitindo flexibilidade nos resultados. E não há nada de errado em discretizar e racionalizar a construção da felicidade.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Um pouco de realidade.

É estranho se ver dessa forma. Uns meses separam você do que um dia parecia ser o momento de sua vida, o ano da sorte. Ficou difícil saber quando tudo desandou. Uma noite tudo estava bem, havia os amigos, havia o príncipe encantado imaginário, havia um ótimo emprego, ouso até dizer que havia a felicidade.
Mas a partir de maio tudo desandou. O sorriso foi sumindo, a promessa de amor eterno se revelou internamente como uma utopia unilateral e até de mim o que mais apreciava foi roubado, minha saúde, e com ela parte da minha alegria em viver.
Ainda me questiono o porquê de ter chegado até esse ponto. Uma conversa em julho com certeza poderia ter mudado tudo. Sei bem que conversa foi essa. De um lado via um garoto inseguro, dessa vez não era eu. Eu sabia justamente o que queria, um jantar, uma chance, um sim. Do outro lado se sabia parcialmente o que se queria, mas diante da dúvida e da insegurança não tive coragem de arriscar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

E cá estou mais uma vez à noite a pensar. Essa é a hora exata em que os pensamentos fluem, o que não significa dizer boas-venturas, acho que estaria mais próximo de desventuras frustradas. O eterno paradoxo: querer um amor, mas ao primeiro vislumbre do que poderia ser um sentimento logo vem a dúvida e a incerteza. Cadê o príncipe encantado? Sinto-me uma garota ao me fazer uma pergunta dessas, porém acredito ainda ter o direito de assim o fazer, mesmo sabendo que não passa de uma pergunta retórica. Agora é uma época de incertezas, por assim dizer, profissionais e amorosas e queria poder elucidar qual delas seria a mais fácil de decidir, mas nem sequer isso consigo decidir. Só me alegra saber que ninguém lê ou sequer está interessado em minhas desventuras, pois só dessa forma me desperta o interesse de continuar a buscar o interesse.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Verdade ou amargura?

Um último olhar para o teto, depois para a parede azul e enfim para o porta-retratos. A porta abriu, depois bateu e a chave caiu. Passos, 20 degraus, mais alguns passos e a porta do carro batendo. Abriu a cortina, depois a janela e espiou a rua. Acompanhou o carro com os olhos, depois com os dedos e por último com o coração.
A gente não sabe o que nos traz aqui, a este ponto definitivo. Certo dia nada fazíamos, assistíamos a vida passar e achávamos estar felizes, mas de repente tudo mundo.
O amor.
Antes fosse apenas uma foda, antes fosse um beijo numa festa e depois um lance de uma noite, mas tinha que ser o amor. Você sabe que é findável, ele sabia que era findável e eu mesmo sei que é finito, porém por que insistimos em cair sempre no mesmo truque? Não me venha agora dizer que seu sofrimento vale a pena, pois no fundo nem você mesmo acredita nisso.
Agora tudo que precisa é de um bom porre, uma música do Death Cab e uma paquera barata, porque sua vida a isso podia se resumir. Ninguém quer ser feliz, todos queremos apenas por aqui passar e no fim conseguir sobreviver sabendo que a estrada é longa e, no fundo, é seu fardo percorrê-la sozinho.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Troca-se felicidades.

Sabe? Ver a felicidade nos olhos dos outros me incomoda. Que pareça egoísmo, que pareça falta de caráter, que pareça maldade, porque, no entanto, não desejo que sejam menos felizes, ou que eu mesmo seja mais feliz, até porque triste não sou. Simplesmente a felicidade nos olhos dos outros me incomoda. Eu poderia categorizar a felicidade em vários níveis, dentro dos quais me encaixo em alguns e outras pessoas se encaixam em outros, não excludentes, mas às vezes eu trocaria minha felicidade pela sua e assim ambos continuaríamos felizes, sendo que na mesma intensidade, porém mais satisfeitos. Eu poderia chamar a minha felicidade de felicidade amargurada, pois a tenho, sendo que nunca foi aquela que procurei, no entanto cá ela está me dando sorrisos segunda-feira pela manhã e lágrimas sexta à noite. Irônico, não? Sua felicidade provavelmente lhe dá um ar de preguiça nas segundas e uma incomensurável vertente de sorrisos nas sextas, mas estaria você satisfeito? Caso não, trocar-la-ia comigo?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Domingo.

Uma folha caía, dava para perceber por mais que a árvore estivesse a um quintal de distância, em meio ao jardim de petúnias de seu vizinho. Um simples fato que teria passado despercebido, mas não naquele dia, um choroso domingo que marcava um ano de solidão. Seriam necessários cem para esquecer? Um ano inteiro havia passado e a ferida continuava aberta e na noite anterior sangrara em vias de hemorragia. Um olhar para trás e começava a lembrar, sua dor de cabeça também poderia ter sido uma dica, na sua cama deitava desnudo um belo rapaz do qual nem o nome lembrava, mas que o recordava do passado. Um outro olhar para frente e a folha já estava prestes a atingir o solo. Folhas caem das árvores, mas aquela manhã de primavera queria brincar de perturbar a sincronia da natureza, assim como um ano atrás sua felicidade foi atirada ao abismo:
- Eu não te amo mais.
- Você disse que sempre me amaria.
- Quando a ti minha vida entreguei eu já receava pelo fim. Sei como o fim é doloroso a ponto de não se querer nem ao menos começar. Agora não te darei flores, nem te darei esperanças, vou te dar apenas um último beijo do qual nunca esquecerás.
- Algum dia você me amará de novo?
- Tenho certeza que sim.
- Então você me dá esperanças?
- Eu te dou certezas.

sábado, 20 de novembro de 2010

O questionário.

E se eu nunca for feliz, nem der mais nenhum sorriso daqui para frente?
E se o que eu vivi até agora não for minha vida, mas a que eu viverei a partir de agora também não for?
E se eu estendi a mão a quem eu não deveria, contudo quem eu maltratei, na verdade, meu bem queria?
E se quando eu olhar para o céu de manhã eu não vir mais o sol, porém aglomerados de nuvens com as quais não seja possível brincar de adivinhar seus formatos?
E se o abraço de minha mãe em meu aniversário não me fizer mais chorar?
E se quando eu chegar em casa meu cachorro não vier mais me acolher emocionado?
E se eu não tiver para quem ligar quando souber da mais nova fofoca?
E se eu nunca souber o que é um abraço de acolhida, porém sempre o de despedida?
E se eu não souber o que é um beijo com amor, ao invés de um beijo com tesão?
E se eu nunca amar, ou melhor...
E se eu nunca for amado?

domingo, 27 de junho de 2010

A minha dor.

Eu tenho a minha dor, ela me pertence, ela me domina e me entorpece, ela não é tua, ela não é dele, sou eu quem fica no apartamento na companhia apenas da solidão e que por ela sou seduzido. Tua dor é capricho, não é nem sequer a razão da consciência que resolveu te retornar, tu agora tens ele em tua cama, sua toalha em teu banheiro. E eu? Eu tenho a minha dor, tenho o apartamento vazio, o corredor silencioso, o chuveiro não mais a chorar. Tu tens tuas saudades, talvez nem saudades, apenas nostalgia, tens uma mão para te acalentar, uma vida para seguires em frente. Eu tenho ainda teu gosto em minha boca e tua respiração ao pé do ouvido, tenho calafrios das lembranças ao tomarmos banho e tenho a minha dor. Tu tens amor, tens uma vida, tens de volta o brilho dos teus olhos e teu fogoso sorriso amarelado, que em outros tempos era suficiente para despertar o meu sorriso amarelado. E eu? Agora eu tenho a minha dor, tenho as lágrimas sofridas nos olhos quando te vejo sorrir e tenho a tristeza iminente de uma tragédia.

sábado, 13 de março de 2010

A partida.

Não quero mais escrever de desamores que não vivi, minha vontade é de constantemente ser enganado por amores que me traem, batem-me e depois fogem. Olhar em faces daqueles que tem coragem de continuar a te encarar mesmo depois de ter te feito de escárnio causa-me repudia. Bater-vos-ia se força ainda me restasse, contudo o mal que me consome não me deixa nem forças para desta cama levantar, parece-me que apodrecerei aqui deitado, desejo aqui perecer até o dia em que a luz do sol não mais venha banhar minhas manhãs. E dessa forma entrego-me a vós, desamores que comigo brincaram, de mim se fortaleceram e depois de mim fizeram a cruz sobre a qual agora vou embora desta vida cruel que já atormentou demais o meu ser.